#6 | O texto que eu fugi até um segundo atrás
Não deu tempo da luta, virou luto. Esse é pra você, Tia Regi! Me conforta saber que partiu rodeada de amor. Licença poética para não corrigir o texto, que veio direto das mãozinhas ágeis do coração.
Pequeno pardal: resiliência e adaptabilidade
Era ultimação anunciada. Que sensação cruel, a materialização do fim. Estar lá era o não estar transvestido de presença. Findou as esperanças, aniquilou a carne. O timbre denunciava acordos tácitos. O olhar nunca enganou o que a voz jamais seria capaz de gritar, nem por um suspiro foi possível o sussurro. Era um frio na espinha, um soprar por detrás da orelha. Eu não pude estar, não estando achei que podia esperar um dia a mais. E a vida dá essa chance? Ela tarda só um tiquinho? Que espanto. Que desumanidade escancarada. Eu estive, que sorte. Sorte no azar, como dizem os clichês — tenho pavor dos clichês. Ah, e existia impulso maior para se deliciar com a vida em tudo que era ocasião? Helicóptero, lagoa, igreja. Estou dentro. Pipoca, beijinho, banana da terra. Deliciar não é mero exagero. Vitória! Por fim, derrota. Injusta como tétano. E eu lá tenho culpa de amassar prego enferrujado com o pé? Se por um descuido… blá, blá, blá. Chega de clichê. Ah, repito e vou sempre repetir: queria que você tivesse mais tempo. Existe beleza na dor. Findou-se ritualisticamente. Quebra de protocolo. Gota por gota. Indo ao encontro de tudo que te tirou de nós, purificando tudo que restou em ti. O conforto é tecido com as linhas do destino, que escreveu que era assim. Ele depois de sentenciar tamanha barbaridade. É o que temos. Sempre te teremos, em cada canto da cidade, do nosso coração. Você sempre será o espírito da festa.
Com amor,
Carolina.
Você apontou para o seu coração, repleto de amor, e disse que eu morava ali. Sem pagar aluguel! Essa foi a última vez que te ouvi. Ainda bem que você soube até o fim do meu afeto por você.
Olá! Eu escrevo poesias e algumas coisinhas mais. Se apoiar o projeto é só assinar, obrigada! rupturagridoce
Amei a sua escrita, cada palavra reverberou sentimentos profundos. Parabéns pela coragem e te desejo um abraço e conforto para esses sentimentos.
Carolina, que texto rasgado e inteiro ao mesmo tempo. Me tocou fundo, como quem lê um sussurro do que também não conseguiu dizer a tempo.
O que me atravessou foi esse ponto entre o afeto e a ausência, entre a poesia e o silêncio mesmo, como você tão bem nomeou. Há algo de sagrado em transformar a dor em gesto literário, sem polir demais, sem pedir desculpas por sentir tanto. Isso é coragem rara.
Fiquei pensando: o que te fez escolher esse tom de fala íntima, quase conversa com algum outro lugar? Você escreve direto pra ela e, de algum jeito, também pra todos nós que perdemos alguém antes da hora.